quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Do Espaço e Do Tempo

Naqueles trinta e cinco minutos que antecederam o nada, apenas o que se ouviu foi o silêncio. Nem o mal velado desejo pela breve morte era percebido. O choro incontido e dissimulado da pré-viúva nem chocava, nem convencia. O olhar do moribundo, fixo no teto, retilíneo e certo, parecia desafiar a morte para uma brincadeira de "quem pisca primeiro". Mas de sua plácida e indefectível condição não se podia esperar outro vencedor. O tempo havia parado, alargando os espaço entre os móveis e a dimensão de tudo, obrigando-nos, todos, a avizorar tudo ao longe, nos renegando à incômoda condição de estranhos, o que de fato éramos. Estranhos olhando para o relógio sobre o criado-mudo como se pudéssemos, de alguma forma, acelerar o tempo encurtando o espaço entre o acamado e seu inexorável destino.

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